Disputas e bate-boca entre aliados de Castro e Paes marcam último dia da Alerj antes do recesso
30/06/2025
(Foto: Reprodução) Governistas aprovam convocação de Washington Reis para CPIs e mudança de gestão do Sambódromo. Paes reage e promete recorrer à Justiça. Sambódromo em disputa política: Alerj aprova transferência de bens da Prefeitura do Rio para o Estado
A última sessão da Assembleia Legislativa do Rio antes do recesso foi marcada por disputas políticas, ataques cruzados entre aliados do governador Cláudio Castro e do prefeito Eduardo Paes — e até uma reviravolta sobre o controle do Sambódromo.
De um lado, o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil), que articula sua candidatura ao governo do estado em 2026. De outro, o deputado Rosenverg Reis (MDB), irmão do secretário estadual de Transportes, Washington Reis.
Washington, embora ocupe atualmente um cargo no governo estadual, tem sinalizado a aliados que pode se lançar como candidato em uma chapa de oposição — ao lado de Eduardo Paes, que também deve disputar o Palácio Guanabara em 2026. Recentemente, ele apareceu ao lado do prefeito em agendas públicas e postagens nas redes sociais.
"Visitando com o professor dos prefeitos, meu amigo Washington Reis e o deputado Rosenverg Reis", escreveu Paes em publicação no Instagram, após visita a Duque de Caxias, base eleitoral da família Reis.
Em reação, Bacellar esteve na sexta-feira (28) em Caxias, onde posou com adversários históricos de Washington Reis, como o ex-prefeito Zito.
Bate-boca e convocação
A tensão foi para o plenário. Deputados governistas apresentaram um requerimento para convocar Washington Reis às CPIs da Alerj — a justificativa foi pedir esclarecimentos sobre os reajustes nas tarifas do metrô. A convocação foi aprovada após ser submetida ao plenário por Bacellar.
Rosenverg Reis reagiu, afirmando que orientará o irmão a não comparecer. A sessão foi marcada por bate-boca:
"Vou encaminhar pro secretário Washington Reis não vir, vou encaminhar. E como o senhor, que comanda mesmo o estado, que comanda mesmo o estado, eu acho...", disse Rosenverg, que foi interrompido.
"O senhor está falando dirigido para mim", perguntou Bacellar.
Roserverg confirmou: "Sim, senhor, também".
Bacellar respondeu: "Pode instruir o seu irmão da maneira que lhe couber. Acabou o tempo de você achar que o seu irmão manda no estado do Rio".
"O senhor é o xerife do estado, presidente", devolveu o deputado. "Se o senhor manda no estado, o senhor não manda no meu mandato."
"Aqui o buraco é mais embaixo. O senhor já falou, vou cortar teu microfone", revidou Bacellar.
"Pode cortar, dita...", ataca Roserverg.
Na resposta do presidente da Alerj, sobrou até para o governador: "O senhor está fazendo ataque pessoal, comigo não vai não! Não me confunde com o Cláudio Castro, não".
"Não me confunde com Cláudio Castro, não, que comigo senhor não vai confundir não. Diferente de você e do seu irmão, que não respeitam o parlamento."
Estado assume Sambódromo
Além da disputa política, a Alerj aprovou um projeto que transfere a gestão do Sambódromo do Rio — atualmente municipal — para o governo do estado.
A medida derruba um veto do governador Cláudio Castro e revoga um decreto-lei de 1975, que definiu que o equipamento cultural seria parte do patrimônio da cidade do Rio de Janeiro após a fusão com o estado da Guanabara.
Segundo o advogado José Luiz Minc, da Comissão de Direito Público da OAB-RJ: "Em 1974, ocorreu a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. Foi determinado que diversos bens deveriam integrar o patrimônio municipal, inclusive o Sambódromo."
O próprio líder do governo na Alerj defendeu a derrubada do veto:
"Carnaval é patrimônio do estado do Rio de Janeiro e não da cidade do Rio de Janeiro tão somente", disse o deputado Rodrigo Amorim.
Prefeitura vai à Justiça
A prefeitura reagiu com dureza. Em vídeo publicado nas redes sociais, Eduardo Paes criticou a decisão dos deputados:
"Como se o estado não tivesse problemas, como se o governador do estado não tivesse problemas suficientes pra administrar. Como se as contas do estado do Rio de Janeiro estivessem uma maravilha, como se não tivesse dívida. A Prefeitura do Rio não tem dinheiro sobrando. Mas é o município mais rico do estado. A gente aqui entrega os nossos serviços. Obviamente a prefeitura vai recorrer disso. Até por uma visão institucional que eu tenho do papel do governo do estado."
Segundo a prefeitura, o custo para manter o Sambódromo e operar o carnaval — fora o repasse às escolas de samba — é de R$ 47 milhões por ano.
Minc, da OAB-RJ, considera a manobra da Alerj juridicamente questionável.
"É uma questão política, né? Mas chama muita atenção que, do ponto de vista jurídico, isso jamais poderia ser feito dessa forma. Se o estado quer, por interesse público, se apropriar de um bem municipal, é necessário seguir o procedimento previsto na lei de desapropriação."